Atividade de História sobre os Povos Indígenas - Mitos da Criação para os estudantes dos anos finais (6°, 7°, 8° e 9° ano). Conhecer as histórias e crenças desses povos é fundamental para ampliar a visão de mundo dos estudantes, além de valorizar a rica diversidade cultural. Venha conhecer, baixar e aplicar em sala de aula.
INDÍGENAS BRASILEIROS: MITOS DA CRIAÇÃO, DIVERSIDADE E REPRESENTATIVIDADE
Por muitos anos, os pesquisadores utilizaram 22 de abril de 1500 como ponto de partida da história do povo brasileiro. Porém, utilizar essa data não condiz com a realidade, ignora a história, a cultura e as conquistas dos indígenas brasileiros que habitavam o território antes disso, submetendo-os ao esquecimento histórico, injusto e preconceituoso. Nas últimas décadas, o fato de proporcionar com que representantes de indígenas ocupassem lugar de fala no meio acadêmico, político e cultural fez com que cada vez mais a história dos primeiros habitantes do Brasil pudesse ser conhecida. Atualmente, podem ser citados como fontes históricas: oralidade cultural indígena, rituais e outras manifestações de cultura. Há também historiadores e até mesmo escritores indígenas, como Ailton Krenak, ocupando cadeiras da Academia Brasileira de Letras.
Ailton Krenak é o primeiro indígena eleito para a Academia Brasileira de Letras
Nasceu em Minas Gerais, enfrentou por décadas as consequências da mineração para a sobrevivência do povo Krenak, emigrou para o Paraná, tornou-se jornalista e ativista da causa indígena. Em 1985, fundou o Núcleo de Cultura Indígena, para promover festivais e encontros entre povos indígenas, valorizando a cultura e a diversidade destes. Participou da Assembleia Constituinte em 1987 e marcou história ao discursar no plenário do Congresso com o rosto pintado de pasta de jenipapo (tinta preta), em protesto ao retrocesso aos direitos dos indígenas. Com isso, tornou-se peça fundamental na inclusão do chamado “Capítulo dos Índios”, trecho da Constituição que garante os direitos indígenas à terra e à cultura autóctone, apesar de ainda não ser uma realidade nos dias atuais. É autor de vários livros, como Ideias para adiar o fim do mundo, A Vida Não é Útil e O amanhã não está à venda e uma das cartas do livro Cartas para o Bem Viver.
A representatividade é ferramenta importantíssima para compreender a complexa formação do povo brasileiro, e assim conhecer a sua riqueza cultural, não somente aquela baseada na que foi imposta pela historiografia eurocêntrica. Expor histórias de indígenas que se orgulham de sua cultura e se destacam sem ter que deixá-la de lado é um combustível para o combate aos preconceitos impostos aos povos indígenas, que os colocavam como seres inferiores e ignorantes.
Ao estudar a história e cultura indígena, pode-se perceber que os indígenas já possuíam vários mecanismos de identidade, mesmo antes da chegada dos portugueses. Possuíam a ideia de comunidade, língua e religiões diferenciadas entre cada grupo, e até mesmo a mitologia própria. Assim como as civilizações europeias famosas como a egípcia, a mesopotâmica e a grega, os indígenas brasileiros também tinham a sua própria explicação acerca do surgimento do homem na Terra.
A mitologia indígena é diversa, cada povo traz consigo suas próprias concepções sobre a origem da humanidade. Para ilustrar essa diversidade, apresentamos, a seguir, três mitos sobre a criação do homem, todos pertencentes a povos indígenas que habitam o território brasileiro. Esses povos, distribuídos por diversas regiões, possuem línguas, rituais, culturas, crenças e costumes diferentes entre si, e devem ser reconhecidos dessa forma, sem a imposição de um único padrão para serem considerados indígenas.
CRIAÇÃO DO MUNDO POVO PALIKUR (NORTE DA FOZ DO RIO AMAZONAS)
“A história diz que o primeiro homem nasceu dentro do mar, só tinha ele e mais nada. Chamava Parauyune. Ele é uma raça, ele era do mar, raça da onda do mar. Aquele homem vivia, sem forma, dentro de um pote, de uma bacia. Um dia ele disse: “mas eu queria ver alguma coisa flutuando em cima da água ou então um ar, que esteja bonito para respirar”. De repente, ele escutou uma voz que dizia: “observa, olha direito para cima”. Aí ele olhou e a água se transformou. Ele disse: “que maravilha, é isso que eu estava esperando mesmo”. Aí ele viu aquelas plantas, aquele mato, que nasciam dentro da água. Quando ele piscou um pouco o olho, ele viu a terra e disse: “que bom”.
VIDAL, Lux Boelitz..
CRIAÇÃO DO MUNDO POVO WAJÃPI (AMAPÁ)
“Nosso criador criou nossos ancestrais através de uma flauta comprida que chamamos de jimi’a puku. Ele deu para nossos antepassados essa flauta que usamos até hoje. Janejarã também criou a flauta ture e falou que temos que cantar dentro dessa flauta quando tocamos, e assim conseguimos ter muitos filhos e aumentar nossa população. Até hoje fazemos festas com essas flautas. Existe um tipo de ture, que chamamos de ture puku, que janejarã deixou para nós chamarmos a chuva e clarear a escuridão quando o mundo acabar’’.
SZMRECSÁNYI, Lúcia; KAHN, Marina
CRIAÇÃO DO MUNDO POVO GUARANI (BRASIL, BOLÍVIA, PARAGUAI E ARGENTINA)
O Sopro de Tupã. No princípio, o deus Tupã morava no vazio, numa escuridão sem fim. Primeiro, Tupã criou o céu e as estrelas, onde fez sua morada e abaixo criou as águas. Depois, Tupã desceu lá de cima, em grande redemoinho. Logo que Tupã tocou as águas, o sol surgiu no arco do céu. Quando o sol chegou ao ponto mais alto, seu calor rachou a pele de Tupã. E finalmente, quando o sol desapareceu do outro lado do céu, a pele de Tupã caiu do corpo dele, se estendeu sobre as águas e formou as terras. No dia seguinte, o sol apareceu no céu e percebeu a mudança. O sol chegou novamente ao ponto mais alto e Tupã pegou um pouco de barro, amassou e moldou o primeiro Homem. Soprou-lhe o nariz e lhe deu vida. O Homem cresceu e ficou grande como Tupã, mas não falava. O grande deus soprou em sua boca e começou a falar. Então, Tupã soprou na orelha esquerda a inteligência e, na orelha direita, a sabedoria. Na cabeça do Homem, Tupã desenhou os raios e trovões sagrados que são os de pensamentos. No corpo do Homem, Tupã colocou as águas das emoções e dos desejos que se movimentam para criar ou para destruir. Por fim, Tupã deu ao Homem o poder de escolher entre criar e destruir. Terminada a criação, Tupã voltou para o céu montado em seu redemoinho.
CLARO, Regina
Refletindo
Com essa diversidade de olhares e cultura é difícil justificar o motivo dos brasileiros conhecerem mais mitos criacionistas da Europa do que os do seu próprio país. É inegável a necessidade de tratar esse tema, conhecer o Brasil e saber que além de Terra de Santa Cruz, ele também já se chamou Pindorama (Terra de Palmeiras), que ele possui uma vasta cultura vinda de seus povos originários, e que estas devem ser valorizadas e trazidas à tona para não se perderem no esquecimento do passar dos anos, décadas e séculos.
Atividade de Fixação